Um dos aspectos mais
importantes a ser considerado na escolha das espécies a serem cultivadas em uma
fazenda vertical ou em outras formas de produção vegetal que utilizem única ou
majoritariamente iluminação artificial é o índice de colheita da cultura. O
índice de colheita foi definido originalmente como a relação entre a produção
econômica de uma planta e a produção total de biomassa pela mesma. Imaginemos
que uma planta de tomate produza 1000g de matéria seca total (a soma de massa
seca de folhas, caule, pecíolos e frutos) e 500g de frutos apenas, o índice de
colheita (IC) será:
IC = 700/1000 = 0,7.
Isso quer dizer que 70% do que a planta produziu em termos de biomassa através
da fotossíntese foi alocado para a produção de frutos, parte economicamente
interessante da planta de tomate.
Vejamos agora uma
estimativa do um índice de colheita da cultura de alface. Digamos que uma
planta de alface produza 500g de matéria seca total (folhas) e 480g de folhas
realmente comercializáveis:
IC = 480/500 = 0,96.
Este valor significa que 96% do esforço fotossintético da planta de alface foi
direcionado para a produção de biomassa que gerará dinheiro. O índice de
colheita de hortaliças folhosas invariavelmente será maior que o índice de
colheita de hortaliças de fruto, por exemplo.
Esta é uma das
principais razões para a larga adoção de folhosas em cultivos indoors, seja em
estufas ou em fazendas verticais. No caso das fazendas verticais, em que toda a
iluminação é artificial, o uso de cada micromol de fótons de luz pelas plantas
conta, é uma despesa. Neste caso, faz sentido cultivar plantas com altos
índices de colheita, ou seja, com maior eficiência em transformar luz em
dinheiro. A decisão de que plantas cultivar também deve levar em consideração o
ciclo da cultura, o período entre o plantio e a produção. Quanto mais longo
este período, mais o produtor tecnopônico estará gastando sem retorno.
Explica-se o fato de praticamente não haver cultivo de fruteiras sob iluminação
artificial - não é economicamente viável. Ao final do período de crescimento,
seja este curto ou longo, continuará sendo importante um alto índice de
colheita.
A expansão dos
cultivos indoors inevitavelmente levará a mudanças nos esforços de melhoramento
de plantas das empresas de semente. Em dezembro de 2019 a conceituada revista
Nature Biotechnology publicou o artigo "Rapid customization of Solanaceae fruit crops for urban agriculture" (Customização rápida de
Solanáceas de fruto para a agricultura urbana). Solanáceas de fruto incluem o
tomate e o pimentão.
Sabendo que é
difícil desenvolver variedades de plantas com as características desejáveis ao
cultivo indoors utilizando técnicas de melhoramento convencional, os autores
utilizaram a metodologia de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9, e
desenvolveram plantas de tomate compactas, com produção precoce. Plantas
geneticamente editadas pelas técnicas de CRISPR não são transgênicas, não há
introdução de genes de outras espécies, então sua aceitação pelos consumidores
provavelmente será muito maior.
Além
dos aspectos fisiológicos e morfológicos, é crucial levar em consideração os
aspectos mercadológicos. Espécies que alcançam um bom valor de mercado ou que tenham um
ciclo curto o suficiente para permitir várias safras ao ano são as mais
recomendadas. No primeiro grupo estão o tomate, particularmente aquelas
variedades consideradas nicho ou gourmet, como os tomates cereja e os
italianos, melões nobres, pimentões coloridos,
mini-hortaliças, pequenas frutas como o morango. No segundo grupo estão
os microgreens, baby-leaves, os brotos e as várias folhosas, como alface, rúcula, salsa,
coentro, cebolinha. O empreendedor deve saber se realmente há um mercado
disposto a absorver e capaz de remunerar adequadamente uma produção de alta
qualidade e maior custo de produção.
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