Além da aplicação de fertilizantes
convencionais ao solo, em algumas culturas, principalmente hortaliças, a
adubação de plantio pode ser complementada pela aplicação de fertilizantes
solúveis dissolvidos na água de irrigação – esta técnica se chama de fertirrigação.
No cultivo em substrato, também chamado de semi-hidropônico, a totalidade das
adubações pode ser feita via fertirrigação, sem necessidade de uma adubação de
plantio.
Uma das vantagens óbvias da
fertirrigação é a possibilidade de se subdividir a adubação ao longo do ciclo
da cultura visando otimizar a utilização dos nutrientes pelas espécies
agrícolas ao disponibilizá-los no momento mais adequado. Por momento adequado
deve-se entender a cronometragem da aplicação de acordo com as necessidades
fisiológicas da espécie. A aplicação de fertilizantes solúveis junto à água de
irrigação visa então prover os nutrientes certos, nas quantidades corretas, o
mais próximo possível ao estádio fisiológico em que o nutriente é mais
necessário. Isto só é possível se houver disponibilidade de informação quanto à
curva ou marcha de absorção de nutrientes da espécie cultivada em questão, nem
sempre disponível para as condições brasileiras.
As necessidades nutricionais das
hortaliças em cada fase de crescimento estão predominantemente associadas a
dois processos: formação de órgãos vegetativos e formação de órgãos
reprodutivos. Embora exista uma dependência entre a curva de absorção de nutrientes
e a curva de produção de matéria seca das plantas, não há completa coincidência
entre ambas devido a diferenças no que se refere a variações no estágio de
desenvolvimento e as necessidades de nutrientes específicos. Há hortaliças cuja
produção é limitada a determinadas fases, enquanto outras apresentam um padrão
contínuo de produção ao longo do tempo, o que leva a diferenças nas curvas de
absorção de nutrientes.
Em comparação com a adubação
convencional, a fertirrigação permite ajustes finos de acordo com as fases de
desenvolvimento das plantas, melhorando a eficiência no uso de fertilizantes ao
minimizar as perdas. Se o método de irrigação utilizado for localizado, como o
gotejamento, por exemplo, a economia de fertilizantes pode ser vantajosamente
associada à economia de água.
Uma das consequências do uso de
fertirrigação pode ser o menor volume de raízes, principalmente no gotejamento,
já que os nutrientes, assim como a água, são aplicados muito próximos ao
sistema radicular. Aliás, se a informação existir, pode-se manejar a fertirrigação
localizando-a nos pontos onde há maior densidade de raízes. A aplicação precoce
da fertirrigação, no cultivo em solo, pode não ser completamente benéfica ao
desestimular o aprofundamento do sistema radicular, criando uma dependência
excessiva por parte das plantas, potencialmente danosa na eventualidade de pane
temporária do sistema de irrigação.
Quando utilizada sob ambiente
protegido, como estufas, há ainda o risco quase inevitável de salinização do
solo, pela mesma razão por que o sistema pode ser vantajoso: pelas menores
perdas do sistema. Como não há entrada de água de chuva ou qualquer
excesso de água no cultivo protegido, os adubos utilizados, em geral sais de alta pureza e solubilidade, acumulam-se e aumentam a condutividade elétrica da solução do solo,
clássico indicador da salinização. Estes problemas têm levado um expressivo
número de produtores a preferirem o cultivo em substratos.
Além de ser tóxica aos vegetais,
comprometendo a produção, a salinização afeta negativamente a estrutura física
do solo, por causar repulsão entre as partículas de argila e de material
orgânico coloidal, impedindo a formação de agregados no solo. Desta forma, o
solo sofre quase uma “compactação química”, comprometendo a infiltração de água
e o crescimento do sistema radicular. Se houver disponibilidade de água, isto
pode ser evitado aplicando-se periodicamente lâminas de irrigação em excesso
para que ocorra a lixiviação ou “lavagem” dos sais acumulados. Idealmente, esta irrigação de
lavagem deveria estar associada à drenagem adequada do lixiviado. Seriam muito
interessantes também práticas que favorecessem o enriquecimento do solo em
matéria orgânica e, antes de tudo, a aplicação racional dos fertilizantes.
O uso inadequado da fertirrigação
em cultivo protegido em solos tem sido causa constante de desequilíbrios
nutricionais que comprometem, por vezes irreversivelmente, a produção agrícola.
Isso ocorre em geral pela aplicação excessiva de nutrientes, sem obedecer às
necessidades do solo e da cultura. Assim como a adubação convencional, o
cálculo das quantidades de fertilizantes a ser aplicados via irrigação deve ser
feito a partir da análise química do solo. Se realizada sem essa ferramenta e
sem o conhecimento das necessidades da cultura, a fertirrigação não passará de
adivinhação, o que é impensável na moderna produção de hortaliças ou de
qualquer cultura.
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