Um erro comum dos
produtores de hortaliças em ambiente protegido é achar que planta bem nutrida é
planta nutrida em excesso. É um engano com consequências sérias. Há algum tempo
fui chamado para avaliar um empreendimento agrícola no estado de Goiás onde se
produzia pimentão e tomate do grupo "cereja" o qual apresentava
problemas com aparência de doença bem como constante queda na produção. A foto
que se vê acima é de uma das estufas em que o pimentão estava com problemas.
Embora talvez não seja possível visualizar-se com detalhes, havia uma grande
irregularidade no stand, com plantas de todo tamanho e alguns focos de oídio e
ácaro que não explicavam, no entanto, a quebra da produtividade.
Como não foi
possível detectar no local uma causa provável para o problema, pedi para que o
encarregado da propriedade me enviasse as análises de solo das estufas para que
eu pudesse fazer uma análise da disponibilidade de nutrientes às plantas.
Interessantemente, o mesmo encarregado me garantiu que mandaria as análises,
mas ele não acreditava que o problema fosse esse, porque eles adubavam bastante
as plantas. Esse "adubavam bastante" já me deixou de preocupado.
Realmente, quando vi
as análises constatei que minha desconfiança estava certa - praticamente todos
os nutrientes estavam em excesso. E não era um excesso "razoável",
era um excesso de toxidez mesmo. Para se ter uma idéia, as "Recomendações
para o uso de corretivos e fertilizantes de Minas Gerais - 5ª Aproximação"
consideram que um teor de fósforo de 30 ppm no solo já é alto. Pois bem, em
algumas estufas, o teor de fósforo era de quase 1100 ppm. A hortaliça estava
sendo cultivada em um solo com quarenta vezes mais fósforo do que o nível já
considerado alto.
O problema não é
apenas de excesso, ambiental, de toxidez - o problema é de desperdício de
dinheiro. O fósforo presente naquele solo é suficiente para se produzir
tranquilamente pelo menos quarenta safras de hortaliças. Se se conseguir
produzir duas safras por ano, são pelo menos 20 anos sem necessidade de
adubação. O pior é que se continuava aplicando fósforo, principalmente na forma
de MAP, um adubo com alta concentração em fósforo.
Um outro problema,
talvez o predominante no caso destas estufas, é a ocorrência de interações
antagônicas entre os nutrientes, ou seja, o excesso de um nutriente
atrapalhando a absorção de outro. O excesso de fósforo, por exemplo,
comprovadamente pode interferir na absorção de alguns micronutrientes como o
zinco. É razoavelmente comum a ocorrência de fundo preto (deficiência de
cálcio) em tomate por causa do uso excessivo de sulfato de amônio - o amônio
pode interferir negativamente na absorção de cálcio, mesmo que este esteja em
níveis adequados no solo.
O fósforo não era o
único nutriente em excesso. Havia o dobro do cálcio necessário, alguns
micronutrientes estavam até dez vezes mais altos que o teor considerado alto.
Como boa parte dos micronutrientes são aplicados na forma de sulfato, o teor de
enxofre estava cinco vezes mais alto do que seria necessário. Aquele solo
estava na verdade uma tragédia. Os micronutrientes, como o nome já diz, não
necessários em quantidades muito pequenas e qualquer excesso pode causar
toxidez às plantas, principalmente se o pH está abaixo de 5,5, que era
exatamente o caso destas estufas.
Ora, no caso de
excesso de micronutrientes metálicos, como ferro, cobre e zinco, uma possível
solução seria a elevação do pH pela aplicação de calcário (carbonato de
cálcio). Como nestes solos o cálcio já estava muito alto e a relação
cálcio/magnésio desequilibrada, a aplicação de calcário poderia até mesmo
agravar os problemas. Em casos como este, o desequilíbrio nutricional
generalizado diminui as opções que o agrônomo tem para tentar a correção, já
difícil neste caso. Em um post futuro falarei de minhas recomendações para
tentar corrigir os problemas comprovadamente nutricionais deste empreendimento.
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